A ideia deste blog é trazer dicas sobre como escrever diálogos interessantes, que comovem e impactam os seus leitores, ao mesmo tempo que dão sequência na narrativa.
Afinal, essas conversas marcam a vida das pessoas, a ponto delas tirarem print para postar no Instagram. Mas, é muito mais do que isso. É sobre mudar percepções e emocionar.
Na busca por uma obra literária incrível, uma ideia é criar diálogos cativantes, semelhante à conversa do Pequeno Príncipe com a Raposa e de Hamlet com ele próprio!
Como os diálogos movem a trama?
O diálogo é uma técnica narrativa que torna a leitura mais envolvente porque permite que os leitores “vejam mais” através das conversas dos personagens.
É uma forma de revelar personalidades, motivações e pensamentos. Ao mesmo tempo, impulsiona a trama e cria suspense ou conflitos.
Para escritores, uma lição essencial na escrita, que pode mudar o resultado da produção. A seguir, veja mais detalhes dessa importância!
É possível construir personagens via diálogo
Criar personagens memoráveis é parte da escrita criativa – e o sonho de todo autor. E os diálogos são determinantes nisso em qualquer texto, das fábulas aos contos épicos.
Ou vai dizer que você não se lembra de quem estamos falando ao ouvir: “ser ou não ser, eis a questão”? O diálogo é de Hamlet e marca a profundidade das obras de Shakespeare.
E, neste exemplo, temos a curiosidade: a conversa do personagem com ele mesmo, em um momento marcante da sua jornada, quando ele presencia o fantasma do pai.
Também dá para desenvolver tensão através de diálogo
Outra ideia ao testar as conversas nas suas narrativas é notar que elas permitem criar tensões, tornando os diálogos realistas e aproximando-se do público leitor.
Geralmente, quando aplicada em momentos de suspenses, traz revelações, ameaças, ironias e tem o poder de ditar o ritmo da história – acelerando ou pausando-a.
Sabia que até diálogos silenciosos funcionam? Basta se lembrar da conversa de Clarice Starling e Hannibal Lecter em “O Silêncio dos Inocentes”. É, o silêncio também diz muito!
Outra ideia é utilizar diálogo para conflito
Para complementar o tópico anterior, vamos falar dos conflitos! Quando personagens têm opiniões diferentes, independente do momento da trama, cria-se um climão, né.
Então, vamos usar de novo o exemplo do Shakespeare, mas agora em “Romeu e Julieta”: o amor proibido dos protagonistas gerou conflito e resultou em um final trágico.
A curiosidade: nem sempre é preciso pensar em brigas de família, viu? Muitas vezes, a luta é contra a natureza (Moby Dick), a sociedade (1984) ou contra si mesmo (O Processo).
Inclusive, essa luta pode ser cheia de simbolismo e analogias, ainda mais pensando em trazer uma pauta à realidade, relacionando-a com variados elementos.
Que tal revelar backstory em diálogo?
Esse ponto também explica como os diálogos movem a trama: a técnica do backstory, conhece? É a história de fundo, que fornece informações fundamentais para o contexto.
As principais vantagens disso tem a ver com a naturalidade que o texto é conduzido, possibilitando a chance de aprofundar em alguma nuance ou engajar o leitor ainda mais.
Também é possível apostar em diálogos que revelam fatos visando a técnica de escrita não conte, mostre, que vimos em outro conteúdo publicado aqui no blog.
Mas, como escrever diálogos para cativar o leitor?
Uma ótima sugestão que vai te ajudar a responder à dúvida sobre como escrever diálogos vem com as regras de pontuação. Sim, é preciso dar um passo atrás e voltar aos estudos!
Ainda que se tenha a flexibilidade da licença poética na escrita, os autores sabem que essas regras são interessantes para informar os leitores sobre o que está acontecendo.
Inclusive, quando diálogos revelam informações importantes. Do travessão à vírgula, considere essas pontuações na próxima vez que for criar e revisar uma conversa realista.
- O travessão indica a fala dos personagens;
- As aspas duplas ou simples também;
- Vírgulas e pontos finais podem servir em vários momentos;
- No término de cada frase do diálogo, a pontuação de novo.
Observe, portanto, que estamos diante das mesmas regras que funcionam fora das conversas, em um texto narrativo e/ou descrito de qualquer gênero.
Só que o ponto mais interessante é saber que há flexibilidade para criar ênfases nas frases ditas entre os personagens a partir dessas regras gramaticais.
Por exemplo, usar uma vírgula fora ou dentro das aspas pode mudar o tom da conversa. Da mesma forma que interromper uma frase com uma tag ou comentário do narrador.
Assim, a fim de cativar o seu leitor, é preciso criatividade e concordância com o objetivo da sua escrita, de maneira que diálogo e a pontuação auxiliam nesse processo.
Se você ficou um pouco confuso com a explicação, está tudo bem. A ideia do tópico a seguir é trazer alguns exemplos de conversas que vão ilustrar essas possibilidades!
Adaptações de diálogos de obras conhecidas
A ideia aqui é apenas trazer pontos de vistas diferentes para diálogos de obras conhecidas, mostrando as diversas alternativas que existem na criação de formatações diferentes.
Em “O Cortiço”, João Romão conversa com sua amante, Bertoleza.
- João Romão: “Bertoleza, eu vou ser rico. Vou ser o homem mais poderoso deste cortiço”.
- Bertoleza: “Mas como, João? Você não tem dinheiro nem influência”.
Outra forma de ilustrar essa conversa seria:
- – Bertoleza, eu vou ser rico. Vou ser o homem mais poderoso deste cortiço – disse João Romão.
- – Mas como, João? Você não tem dinheiro nem influência – respondeu a amante.
Mais uma sugestão:
- – Bertoleza, eu vou ser rico – disse João Romão – Vou ser o homem mais poderoso deste cortiço.
- – Mas como, João? – respondeu a amante – Você não tem dinheiro nem influência.
Observe que não houve mudança em nenhuma palavra do diálogo, apenas uma montagem diferente, a partir do uso da pontuação.
Indo um pouco mais além, é possível introduzir revelações e informações nas entrelinhas, pensando no conceito de backstory. Imagine essa outra situação…
Em “Dom Casmurro”, o diálogo de Capitu e Bentinho mais conhecido tem esse começo:
- Bentinho: “Capitu, você me ama?”.
- Capitu: “Claro que sim, Bentinho! Você é o único homem que eu amei em toda a minha vida.”
Mas, nas entrelinhas, o autor poderia adicionar um comentário.
- – Capitu, você me ama? – Perguntou Bentinho, cheio de dúvidas.
- – Claro que sim, Bentinho! – respondeu Capitu com muito medo – Você é o único homem que eu amei em toda a minha vida.
Isso mudaria o contexto, não? “Capitu com medo” tira a convicção dela na frase original. E isso muda o jogo, como você sabe, futuro leitor.
Então, sempre vale a pena avaliar a escrita de diálogos, seja pensando no contexto, na narrativa ou no seu objetivo com aquelas falas.
Estude vários estilos literários
Outra sugestão para criar diálogos fortes, além da pontuação, é pensar no estilo literário, que vai servir de fonte para você ditar o tom da conversa na sua produção.
Se quiser se inspirar em diálogos clássicos, uma dica é variar nas leituras que fizeram sucesso ao longo do tempo:
- Diálogos épicos em “O Senhor dos Anéis”;
- Diálogos filosóficos em “Grande Sertão: Veredas”;
- Diálogos poéticos em “O Pequeno Príncipe”;
- Diálogos bem-humorados em “Guia do Mochileiro das Galáxias”;
- Diálogos memoráveis em “Hamlet”;
- Diálogos coloquiais em “Macunaíma”;
- Diálogos irônicos em “Triste Fim de Policarpo Quaresma”.
Essa é uma ótima lista que serve de ponto de partida nos seus estudos, visando as obras mais marcantes da literatura nacional e internacional.
Mas, não se prenda apenas à teoria. Também é preciso colocar a mão na massa!
Já sabe como escrever diálogos? É hora de praticar a escrita!
Agora que você entendeu um pouco sobre como escrever diálogos visando engajar o leitor e tornar a sua narrativa mais dinâmica e interessante, que tal começar a treinar isso?Na Lura Editorial, temos um curso gratuito para criar o hábito da escrita e aplicar as mais variadas técnicas, de modo encontre o seu próprio estilo: